viernes, 13 de noviembre de 2009

AO MEU PORTO ( II de V)






Estás cheia de contrastes! Tens quatro perfis com os que gosto de deleitar-me, contemplando-te. Tomo como atalaias destacadas a ponte da Arrábida, a serra do Pilar, a torre dos Clérigos e os jardins do Palácio de Cristal.




É da Ponte da Arrábida que te dou o primeiro abraço quando chego, enquanto observo a tua sinuosidade marcada pelo rio por um lado e, pelo outro, a luminosidade dum anoitecer avermelhado, em concordância com a emoção que me invade. No abraço de despedida tento reter-te, sem poder evitar alguma lágrima, que se me esgueira pelo canto dos olhos até à boca para sentir o sabor salgado da tristeza.








Da serra do Pilar, observo-te pormenorizadamente, tento construir o meu quebra-cabeças pessoal da tua esbelta figura: em primeiro plano, a ponte de Dom Luís, lá em baixo o rio, sempre a espelhar, detrás a Ribeira, o Barredo, a Sé, o Palácio da Bolsa, as casas em anfiteatro até à Torre dos Clérigos, que parece que quer alcançar o céu. Do outro lado as muralhas Fernandinas, as Fontainhas, a ponte de Dona Maria, a do Infante e a de são João: agora é que temos pontes! Tudo é cor, tudo é belo, ainda que o Rui Veloso diga que é cinzento, eu digo que é verde e azul. As águas do Douro sarrafadas pela brisa ondulam, cheira a sável! Fascinas a quem te visita desde este ponto de mira, até pode que seja o melhor cartão de apresentação que tens.






Aqui, só ante Ti, sinto-me feliz, radiante: até uma suave brisa vem atenuar o que os raios de sol do fim da tarde castigam, por querer-te ver e sentir, com os tons vermelhos do fim do dia a entrar por mim dentro.




A princípios de Junho, com a vinda dos primeiros dias de calor, o pessoal começa a afadigar-se na preparação de tudo que está vinculado ao momento que se aproxima, o São João. Começas a engalanar-te, vestes-te de festa. Nas casas e nas ruas cheira a manjerico, a cidreira, e a alhos porros: mas também a rosas e a cravos. As ruas enchem-se de gente, já adornadas de balões e de música, é a nossa festa.
Somou-se á festa esse ruído, que para mim só deu som, e fez decair o romantismo, “os martelinhos”; que algum mal intencionado esgrime com excessivo fulgor; arremete sem ver a quem.






As Fontainhas, com a sua imensa cascata, espera a malta, que em romaria tenta chegar até lá, mas, como nem sempre se consegue, opta por ver o fogo desde qualquer sitio. Por fim o céu enche-se de luz e de cor, são as cores do São João! A ponte parece que sai duma nuvem de fumo e de fogo, cheira a pólvora. Nos outros bairros da cidade acendem-se fogueiras, ouve-se música: uns dançam, outros bebem, há alegria!
Para completar a festa são-joanina, e de certo modo para recuperar as energias perdidas, a mesa veste-se de gala; as sardinhas assadas, ou o cabrito assado, são bem regados com o bom vinho da terra. Tudo isto faz esquecer penas e une corações, do que se sente orgulhoso o bom povo tripeiro.







Quando desço das alturas da Sé até à Ribeira, dá-me a sensação de que estou a viver um sonho. És uma cidade de velhas escadarias de granito e grandes rampas, que caem para o rio em zig-zag. Um sobe e desce continuo, mas que estimula a imaginação: que vamos encontrar na próxima esquina? Tais sensações fazem-se latentes no Barredo. Mas também na Vitoria e nas Fontainhas.






Aqui nasce o burgo que te deu nome. Quanta historia destilam estas pedras! Num desses arcos podemos repor forças e degustar um dos manjares de maior tradição, as iscas, que regadas com um bom vinho verde fazer-se-ão inolvidáveis. É que aqui tudo tem outro sabor!





Uma olhadela para a ponte de Dom Luís que, desde essa perspectiva, pode ser o melhor estimulo para os sentidos. Estamos ante um empreendimento chave para o teu desenvolvimento. Um desenho empolgante que Teófilo Seyrig tão bem soube criar e que ademais se considera única no seu género.
A fúria do Douro atormentava as tuas margens todos os invernos, perigo hoje em dia parcialmente dissipado, ao estar controlado pelas barragens. Outrora provocou cheias para a historia que se podem comprovar num passeio pela Ribeira, donde late mais forte o teu coração tripeiro.






Assim nos chamam a partir do momento em que um jovem Infante, um nobre filho teu, que nasceu ali mesmo ao lado, pudesse ver concretizados os seus sonhos. Chamou-se Henrique, mais tarde, O Navegador, e menos mal que o fez! Pois, a epopeia que veio posteriormente, fez que um tal Luís de Camões se inspirasse, para escrever um poema épico, para orgulho de todos nós: Os Lusíadas. O preço que tivemos que pagar foi elevado, ficar desprovidos dos viveres principais, que o Infante embarcou para provisão dos seus homens. Só ficaram as vísceras em casa, e, assim, dar nome a um dos nossos pratos mais típicos “Tripas à moda do Porto”: recursos portuenses!